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terça-feira, 18 de setembro de 2018

A geração de 45: Guimarães Rosa


Natural de Cordisburgo, Minas Gerais, João Guimarães Rosa é considerado um dos ícones da prosa ficcional brasileira. O livro de estreia, Sagarana, publicado em 1946, alcançou grande sucesso de crítica e público.
Em 1956, Guimarães Rosa viria a surpreender crítica e público ao lançar em um espaço de aproximadamente seis meses dois livros: Corpo de baile, um conjunto de novelas publicado inicialmente em dois volumes que hoje é desmembrado em três – a novela mais conhecida do grande público é “Campo Geral”, narrativa da infância do garoto Miguilim – e o surpreendente romance Grande sertão: veredas. Completam a obra de Rosa Primeiras estórias, Tutaméia e Ave Palavra.    
A obra de Rosa bebe nas fontes da cultura popular. Homem de inteligência elevada, suas narrativas enlaçam o popular a erudição.
Assim como Clarice Lispector, desenvolve complexo trabalho de elaboração com a linguagem. O crítico literário Alfredo Bosi, afirma que em Guimarães Rosa “A palavra é um feixe de significações”, por si só portadora de sons e de formas e o autor busca abolir as fronteiras entre a narrativa e a lírica, construindo, em seus textos, um pensamento analógico e mítico.
Seus personagens encerram certo panteísmo, e a natureza implica no movimento entre os opostos complementares, encerrando em si mesma o Bem e o Mal, que se fundem em uma só realidade, e muitas vezes em um só corpo. Tudo, até mesmo aquilo que se opõe, aparentemente partilha de algo maior e infinitamente mutável: o devir.
O outro é sempre o desconhecido, o avesso, “os crespos do homem”, com quem o sujeito estabelece relações dialéticas que se manifestam por meio dos modos pré-lógicos tais como mito, psique, infância, sonho ou loucura.
O que aparece em Rosa poderia ser chamado de regionalismo introspectivo ou espiritualismo com roupagem sertaneja, mas o mais importante está no fato de que o autor cria uma dicotomia cosmopolita X regionalismo, ao se valer de uma linguagem arcaizante, preservada no interior de Minas.
O fato é que Guimarães Rosa tem a região como personagem e o homem como paisagem, por isso a temática batida desde o regionalismo de 1930 não se torna enfadonha. Na ficção comum o homem é engolido pela paisagem, mas em Rosa a essência do homem passa a ser sua multiplicidade e ambigüidade, e o espaço se comporta da mesma forma, pois em Rosa a paisagem é instável, mutante, refletindo a dinamicidade do mundo, e a linguagem precisa acompanhar isto.
Vejamos algumas das características da obra rosiana, no gênero conto, em uma de suas melhores obras: Primeiras Estórias.
Em Primeiras Estórias, o autor põe em cena seres rústicos, que são tocados pela iluminação, o que faz com que seus conflitos percam a importância, característica que já se via em Sagarana. Não raro os personagens, seres comuns por fora, mas que se revelam uma caixa de pandora, vêem-se envolvidos pela busca da transcendência, como no conto A terceira margem do rio, em que o autor resgata a imagem de permanência no fluir eterno do rio.

Percebe-se também o reconhecimento do amor como o inefável, que muitas vezes é ofuscado pelo diário da vida.
Em muitas situações a palavra é tomada como o significante motor, como no conto Famigerado, que possui estrutura de adivinha invertida, pois quem questiona não sabe a resposta e aquele que deve “adivinhar” certamente sabe, embora tema falar, o que implica em uma inversão de lugares. Também é essa mesma temática que encontramos em A menina de lá, mas aqui a palavra possui poder numinoso, de presentificação e atualização.

Veja o vídeo acerca do conto A Terceira Margem do Rio, da Profª Yudith Rosembaum