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domingo, 22 de abril de 2012

Características do Barroco


A Ambiguidade: o alicerce do Barroco


A estética literária do Barroco opõe-se diretamente ao racionalismo clássico. O rigor formal, usado para produzir clareza, soma-se à ambiguidade de figuras que culminam em tensão e conflito.
A linearidade renascentista é substituída pelo pictórico das antíteses, contradições e paradoxos, e a sintaxe simples é substituída pelo rebuscamento que se apoia no anacoluto e na inversão sintática.
O exagero reflete o desconforto de um homem dividido entre o céu e as coisas terrenas, evidenciando o conflito entre os valores da tradição, ligados à consciência medieval e defendidos pelos jesuítas, e os valores gerados pelo avanço do racionalismo.

O quadro "A dúvida de São Tomé", do pintor italiano Caravaggio, ilustra bem esse panorama do mundo Barroco, mostrando a religiosidade na figura de Cristo, de quem vem toda a luz da cena composta pelo jogo do Ciaro/Escuro, característico da pintura barroca, em oposição ao racionalismo presente na dúvida de São Tomé, que chega a tocar a ferida de Jesus para se certificar.

A dúvida de São Tomé, de Caravaggio.

Segundo Benjamim Abdala Júnior e Samira Youssef Campedelli, é possível perceber vários estilos dentro do Barroco. Alguns dizem respeito à forma, outros, ao conteúdo.
Observe a tabela abaixo, em que esses estilos estão expostos:

Estilos
Características
Maneirismo
É o elo entre o Renascimento e o Barroco e registra a incerteza das formas.
Culteranismo, cultismo ou gongorismo
Cultivou construções obscuras, repletas de preciosismo formal que se vê tanto na poesia quanto na prosa barroca.

Conceptismo
Ligado à prosa barroca e contrário ao culteranismo. Buscou o domínio das palavras, valendo-se do conhecimento conceitual e da concisão.
Barroquismo
Originou o rococó. Possui construções rebuscadas e  decorativas.

Características da produção literária


As raízes do Barroco se encontram no Renascimento. Como no Classicismo, os artistas também buscavam a perfeição formal, mas de maneira exagerada. A literatura barroca é marcada pelo rebuscamento da linguagem e pela sobrecarga de figuras de estilo como a metáfora, a alegoria, a hipérbole e a antítese.

Referências à cultura grega ainda aparecem, mas a ideia do pecado e do perdão torna-se uma obsessão. O tema carpe diem (aproveite a vida, o momento), por exemplo, tão explorado pelos gregos, volta à tona. Contudo, aproveitar a vida implica em prazer, que por sua vez implica em pecar. Quantas dúvidas sofria o artista barroco! Como cultuar a vida e o prazer sem pecar? Como manter os ideais renascentistas de valorização do ser humano sem ofender a Deus?

Como já dissemos, toda essa tensão e esse conflito acabam sendo expressos por meio da arte barroca, na qual muitos tentavam conciliar as tendências opostas. Segundo o professor Massaud Moisés:

“[...] era o empenho no sentido de conciliar o claro e o escuro, a matéria e o espírito, a luz e a sombra, visando anular pela unificação a dualidade do ser humano, dividido entre os apelos do corpo e os da alma.” (MOISÉS, 2006, p.73).

 Poesia barroca

 As tópicas clássicas, já vistas no Renascimento e advindas da retomada das características Greco-romanas são frequentes na literatura barroca, a saber:

§  fugacidade da vida e das coisas, tudo é efêmero;
§  carpe diem;
§  a morte, expressão máxima da efemeridade;
§  erotismo;

Por outro lado, a ambigüidade barroca faz aflorar outras temáticas na lírica, tais como:

§  castigo, como decorrência do pecado;
§  arrependimento e busca do perdão;
§  narração de cenas trágicas;
§  sobrenaturalidade;
§  misticismo.

A poesia barroca corresponde muito mais ao culto da forma do que do conteúdo, ou mesmo do sentimento lírico. Com pouca representatividade, os poetas portugueses sofrem grande influência espanhola. Podemos citar Francisco Rodrigues Lobo (1579-1621), um dos mais importantes discípulos de Camões. Influenciado por Gôngora, é considerado o iniciador do Barroco em Portugal.

Veja a seguir um soneto barroco de Francisco Rodrigues Lobo:

Observe:
trocadilho: “te vejo e vi, me vês agora e viste”;
antítese: triste/contente; contente/descontente; mal/bem.
Veja também as incertezas do eu lírico quanto ao seu futuro.

Fermoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente!

Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!

Mas lá virá a fresca Primavera:
Tu tornarás a ser quem eras dantes,
Eu não sei se serei quem dantes era.[1]

Surgem nesta época, em Portugal, as Academias, nas quais os poetas se reuniam para discutirem sobre a estética barroca. Outros autores que podemos citar são: D. Francisco Manuel de Melo, Frei Luís de Sousa, Sóror Mariana Alcoforado e o dramaturgo Antônio José da Silva.

Vale ressaltar que a escrita ainda era um privilégio da nobreza e do clero, uma vez que a burguesia iniciava-se nessa área. Ao povo, como havia de se esperar, era negado o acesso à escrita e aos bens culturais das elites.

Gregório de Matos


Os sonetos da tradição gregoriana encenam uma lógica de fundamentação teológica, também aplicada pelo Pe. Vieira: um todo metafísico que está em toda parte, simultaneamente, e uma parte desse todo que, por ser divina, é perfeita e indivisível, contendo, dessa forma, um todo em qualquer parte. Vejamos os sonetos:

Ao Braço do Mesmo Menino Jesus Quando Apareceo

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.

Ao menino Jesus de N. Senhora das Maravilhas, a quem infiéis despedaçaram achando-se a parte do peyto.

Entre as partes do todo a melhor parte
Foi a parte, em que Deus pôs o amor todo
Se na parte do peito o quis pôr todo,
O peito foi foi do todo a melhor parte.

Parta-se pois de Deus o corpo em parte,
Que a parte, em que Deus ficou o amor todo
Por mais partes, que façam deste todo,
De todo fica intacta essa só parte.

O peito já foi parte entre as do todo,
Que tudo mais rasgaram parte a parte;
Hoje partem-se as partes deste todo:

Sem que do peito todo rasguem parte,
Que lá quis dar por partes o amor todo,
E agora o quis dar todo nesta parte.

O Beletrismo Seiscentista e Setecentista, isto é, o Barroco, é mais que uma expressão estética de um tempo; é a representação de uma forma de ver o mundo e é a forma como este mundo se vê. A poesia encena, em antítese, a culpa, mas reafirma o desejo. Como vemos no poema abaixo, atribuído a Gregório de Matos:

Ao Mesmo Assumpto e na Mesma Occasião

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.



[1] LOBO, Francisco Rodrigues In MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 163.

Barroco


A Deposição[1].


O Barroco foi um movimento cultural e artístico, marcado por uma visão pessimista da vida, conseqüência da crise econômica e social, vivida pela Europa, e das desilusões acerca dos ideais humanistas e renascentistas.
O período a que chamamos Barroco se deve ao momento em que a sociedade se vê diante das consequências da Reforma Protestante, iniciada em 1517 por Martinho Lutero e que dividiu a Igreja entre católicos e protestantes.
Estas ideias puseram em risco o poder da Igreja, ao que ela responde com o movimento de reação chamado de Contra Reforma, e que tinha intenção de impedir o avanço do protestantismo. O estilo barroco floresce quando a Igreja Católica busca a consolidação de seu poder.

Dentre os atos mais importantes da Igreja católica dessa época temos:
1. A instituição do Tribunal do Santo Ofício, ou Tribunal da Inquisição
2. A criação da Companhia de Jesus.

 Práticas da Inquisição[2]

Contradições, no âmbito religioso, que tiveram forte influência sobre a arte do período, produzindo o desencanto do homem com o próprio homem, assumindo assim uma postura anticlássica, que instaura um mundo ambíguo e dicotômico, dividido entre o catolicismo e o protestantismo, entre a fé e a ciência, que dá espaço à estética barroca.

Contexto social e histórico


Em 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião, com apenas quatorze anos, desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir na África, não deixando herdeiros diretos. Seu tio, Cardeal D. Henrique, assumiu o poder por dois anos, mas, em 1580, o rei da Espanha Filipe II, herdeiro mais próximo da coroa portuguesa, anexou Portugal a seu país. Foi um dos períodos mais negros para a história de Portugal e culturalmente, um período de grande estagnação. O grande império perdeu seu líder e caiu sob o domínio espanhol até 1756, momento denominado de Restauração.

O desaparecimento de D. Sebastião incitou o imaginário popular, dando origem a um posicionamento místico denominado Sebastianismo, no qual muitos acreditavam no retorno de D. Sebastião, como um salvador, um messias.

Após a Reforma Protestante, a Contrarreforma da Igreja Católica acirra a perseguição aos “infiéis”, procurando recuperar sua posição de destaque perdida com o Renascimento. A Inquisição torna-se uma das instituições mais fortalecidas que, além de comandar a censura, condenava à morte os traidores da fé católica. A Companhia de Jesus toma frente no processo de catequização e reforça os ideais religiosos, principalmente nas colônias, como o Brasil.

Nessa época, há uma constante tensão entre o Antropocentrismo e o Teocentrismo. O homem se vê dividido entre as novas concepções renascentistas e os valores medievais abandonados. Assim, o Barroco surge como expressão desse conflito entre o humanismo renascentista e a tentativa de restauração de uma religiosidade intensa, vivida na Idade Média; duelo entre a razão e a fé, entre o material e o espiritual.

O Barroco no Brasil


Somente no Barroco é que podemos começar a falar de uma Literatura Brasileira, pois encontramos uma produção literária com preocupação estética, que despe-se dos valores da corte e reflete a realidade brasileira.
O Barroco foi o estilo artístico dominante na Europa durante o século XVII e primeira metade do século XVIII. Caracteriza-se pela abundância de ornamentos e pela ousada elaboração formal, que se vale do uso de recursos retóricos, tais como as alegorias e o uso de figuras de liguagem, como a antítese e o paradoxo, cujo objetivo é mostrar desconforto.
No Barroco, a forma poética é encantadora e erudita, mas é apenas um disfarce para o conteúdo que valoriza a tensão e o conflito, na maioria das vezes, abordado com ironia ou malícia; reflexos de uma época angustiada, em que se evidencia a crise do renascimento.
No Brasil a estética barroca teve influência direta da coroa portuguesa que, mantida sob o jugo espanhol até 1640 não acompanhou as descobertas científicas ocorridas entre os séculos XVII e XVIII no resto da Europa, por conseguinte permaneceu no obscurantismo medieval.
No Brasil, o Barroco coincide com o momento de grande exploração da colônia pelos portugueses. Dessa forma, a aristocracia colonial brasileira, ou aristocracia crioula já revela um sentimento de independência que transparece nos textos literários da época. Por isso diz-se que o Barroco no Brasil foi "crioulizado", isto é, misturou a tendência europeia com a visão local, nativista e negra.
As invasões estrangeiras do Rio de Janeiro ao Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis pelo despertar de uma consciência colonial, que somada à decadência da cana-de-açúcar, posiciona-se contrariamente ao absolutismo monárquico.
No Brasil, o Barroco inicia em 1601, com o poema épico de Bento Teixeira chamado Prosopopéia, e atinge seu apogeu com o poeta Gregório de Matos e com o orador Pe. Antônio Vieira.


[1] Óleo sobre tela de Michelangelo Merisi da Caravaggio, 1604. Pinacoteca Vaticana, Roma. http://mv.vatican.va/3_EN/pages/x-Schede/PINs/PINs_Sala12_01_049.html