As Vanguardas Europeias
O início do século XX foi um período de
grande efervescência cultural, cujos avanços tecnológicos – telefone, rádio, eletricidade, cinema – e científicos acirraram a luta pelos
mercados financeiros e, consequentemente pelo domínio de territórios. Em meio a
essa revolução cultural eclode a Primeira
Guerra Mundial (1914 – 1918).
O desenvolvimento técnico
e científico não foi suficiente para aplacar as agitações sociais e políticas
desencadeadas pela Primeira Guerra Mundial. A sociedade
mostrava-se em crise, desencadeando oposições entre as classes: de um lado, a
burguesia e o sucesso da economia industrial, de outro, o proletariado
descontente com a situação de desemprego, fato intensificado pela quebra da
bolsa de Nova Iorque em 1929.
Todo esse conturbado período exigia modos de expressão que fossem
capazes de representar o caos que se estabelecia.
As manifestações artísticas do início do século XX, evidenciavam
a necessidade de atualização da arte, alinhando-se
com os movimentos externos e com as novas tendências, para conseguir expressar
o novo século. Essa necessidade de modernização também buscava romper com o simbolismo e as escolas
anteriores e exerceu preciosa influencia no Modernismo brasileiro.
Leia, aluno, no balão, a etimologia das
palavras relacionadas ao modernismo e as vanguardas.
A
palavra Vanguarda vem do francês, avant-garde, e significa estar à frente.
Politicamente ou artisticamente atribui-se esse nome às correntes, ou grupos,
que apresentam propostas inovadoras.
O
termo moderno designa tudo o que se
opõe ao tradicionalismo clássico, valorizando o indivíduo, a subjetividade e a
atitude crítica, defendendo assim a renovação do pensamento.
Cubismo (1907)

O Cubismo representa uma revolução estética e técnica, pois rompe
com os princípios da tradição clássica, buscando novas soluções para a arte
como a decomposição, a fragmentação e a geometrização das imagens e formas, fazendo experiências com a perspectiva, negando, assim, a objetividade e a
linearidade.
O movimento tem início na França, em1907, com Pablo Picasso e o
quadro Les Mademoiselles d’Avignon, acima [1],
embora o marco seja em 1913, com o manifesto assinado por Guillaume Apolinaire, poeta
francês, que propunha a destruição das sintaxes desgastadas em busca das
“palavras em liberdade”.
Os cubistas introduziram a colagem
como componente do objeto artístico, construindo a obra a partir de diferentes
materiais, como figuras, jornais, madeira, e buscando a visão simultânea, de ângulos diferentes, do mesmo
objeto.
Dentre as experiências cubistas temos as experiências visuais do
poeta Apollinaire, que explorou a disposição espacial e gráfica do poema –
técnica que influenciaria, mais tarde, os poetas do Concretismo.
Vejamos um poema:
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reconheça
essa adorável pessoa é você
sem o grande chapéu de palha
olho
nariz
boca aqui o oval do seu rosto
seu
lindo pescoço
um pouco mais abaixo
é seu coração
que bate
aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem
|
Futurismo (1909)

A vanguarda futurista propunha a exaltação da vida urbana, da eletricidade,
do automóvel, da velocidade, da máquina e a abolição ao passado. Defendia, portanto, um dinamismo que pudesse representar o
ritmo do mundo moderno.
Idealizado
por Filippo Tommaso Marinetti, com a publicação do Manifesto Futurista (1909), o Futurismo surgiu como uma
forma de superar as novas tendências e correntes artísticas de então,
adiantando-se a todas elas. Entretanto, a exaltação à guerra e seu menosprezo
às mulheres aproximou ideologicamente o Futurismo do Fascismo italiano.
Leia agora
um fragmento do manifesto supracitado e perceba sua irreverência e como suas
ideias buscam chocar para romper com a literatura passadista.
Manifesto Futurista 1908[3]
(publicado em 1909)
"Então, com o vulto coberto pela boa lama das fábricas - empaste de
escórias metálicas, de suores inúteis, de fuliges celestes -, contundidos e
enfaixados os braços, mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos
os homens vivos da terra:
1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da
temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa
poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase
e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a
velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza
nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos
semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece
correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a
Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de
aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter
agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento
assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para
trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o
Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade
onipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o
patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas idéias pelas quais se
morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo
tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e
utilitária.
11. [...]É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e
incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar
este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e
antiquários.
Há muito tempo a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos
libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.
Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade
de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se
repousa sempre ao lado de seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos dos
matadouros dos pintores e escultores que se trucidam ferozmente a golpes de
cores e linhas ao longo de suas paredes! [...]Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna
e inútil admiração do passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e
espezinhados?[...]
Expressionismo (1910)
No começo do século XX, na França e na Alemanha, surge um grupo de
pintores chamados expressionistas, na Alemanha, e fauvistas, na França. O objetivo
dos integrantes desse grupo era combater
o Impressionismo, tendência da qual eles provinham e que valorizava a
impressão e sua abordagem do exterior para o interior.
O Expressionismo se preocupa com a manifestação exterior de uma
necessidade interna, isto é, o mundo
interior, o qual a obra de arte deve
refletir, por isso seus temas centram-se na angústia e nos sofrimentos
do homem da época, o que fez com que buscassem expressar os horrores da
guerra e temas dramáticos e obsessivos.
Opta pela distorção das imagens e, muitas vezes, pela valorização
do feio e do grotesco para retratar a desarmonia e a desesperança, presentes no
mundo do pós guerra.
Observe as características apontadas a respeito do Expressionismo
no quadro O grito, de Edvard Munch, em que ele tenta captar a
angústia, a solidão e o desamparo do homem diante de um mundo que parece não
demonstrar preocupação para com ele.
Dadaísmo (1916)
O mais radical de todos
os movimentos de vanguarda teve comportamentos provocativos com o intuito de
chocar e escandalizar o mundo burguês. O Dadaísmo defendia uma arte que
concretizava o instantâneo, enfatizava a destruição e a desconstrução, isto é,
foi a primeira manifestação de "antiarte"
deste século, valendo-se do ready-made,
cuja intenção era tirar um objeto de seu uso comum para atribuir-lhe valor
artístico, como é o caso d´O Urinol,
de Marcel Duchamp, que se vê no balão.
O Dada surge em 1916, em Zurique, com a fundação do cabaré
Voltaire e a criação do Manifesto
Dadaísta, por Tristan Tzara e refletia
a saturação cultural, a crise moral e política, que surgiu como consequência à Primeira
Guerra Mundial, contra a qual muitos artistas reagiam com ironia, cinismo e niilismo anárquico.
Os dadaístas entendiam que, com a Europa destruída pela guerra, o
cultivo da arte não passava de hipocrisia e presunção, por isso adotaram a
postura de ridicularizá-la, agredi-la, destruí-la.
Na literatura, o dadaísmo caracteriza-se pela agressividade, pelo improviso,
pela desordem, pela rejeição à racionalização e ao equilíbrio, pela livre associação de palavras e pela invenção de palavras com base
na exploração apenas de sua sonoridade.
Surrealismo (1924)
Nas duas
primeiras décadas do século XX, os estudos psicanalíticos de Freud e as
incertezas políticas favoreceram o desenvolvimento de uma arte que criticava a
cultura europeia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais
complexo.
O
Surrealismo, última das vanguardas europeias a manifestar-se, apoia-se nas
teorias da psicanálise, acreditando que, pelo inconsciente, pode-se atingir a
libertação total da imaginação. Teve início na França a partir da publicação do
Manifesto do Surrealismo (1924), de André Breton.
Breton, tendo sido psicanalista, procura unir arte e psicanálise, explorando
os limites do real, estudando a loucura, os sonhos, os estados
alucinatórios e quaisquer outros exemplos de manifestação do inconsciente, por meio do automatismo psíquico e da
mistura da imaginação com realidade, técnica que teve grande influência na
primeira fase do Modernismo no Brasil, e que será observada sobretudo na obra Macunaíma,
de Mário de Andrade.
Os surrealistas conquistaram imagens de impacto, que se
imortalizaram nas telas de Salvador Dalí,
Juan Miró, Giorgio de Chirico e René
Magritte. Veja um pequeno exemplo na tela de Salvador Dalí, exposta no
balão.
Veja, na tabela abaixo, um resumo das tendências vanguardistas e de suas características.
Vanguarda
|
Características
|
Cubismo
|
·
Geometrização das formas
·
Decomposição da perspectiva
·
Fragmentação do olhar e visão simultânea a partir
de diferentes ângulos
·
Ruptura com a sintaxe tradicional
|
Futurismo
|
·
Rejeição
ao passado
·
Exaltação
à vida moderna
·
Arte
dinâmica
|
Expressionismo
|
·
Manifestação
do mundo interior, da angústia e dos sofrimentos humanos
·
Expressão
dos horrores da guerra
·
Imagens
distorcidas
|
Dadaísmo
|
·
Espontaneidade
artística
·
Anarquia
de valores e propostas estéticas
·
Ilogismo
·
Deboche
e agressividade
|
Surrealismo
|
·
Valorização
do sonho, do inconsciente e da fantasia, do ilógico e da loucura
·
Influencia
da psicanálise
·
Automatismo
da escrita e da arte
·
Expressão
direta das zonas ocultas da consciência humana
|
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