Contexto social e histórico do Realismo (1865-1890)
A produção literária
Como vimos, várias teorias deram fundamento ideológico ao Realismo, como o determinismo de Hippolite Taine, o positivismo de Augusto Comte, o socialismo utópico de Proudhon, o evolucionismo de Charles Darwin, entre outras, que serão exploradas quando tratarmos da prosa realista, na qual foram amplamente utilizadas.
Em 1861, o grande poeta Antero de Quental fundou a Sociedade do Raio composta por duzentos estudantes da Universidade de Coimbra propensos a romperem com o convencionalismo acadêmico do Romantismo. Empolgado com as novas ideias revolucionárias, Antero de Quental editou Odes modernas. Essas novidades provocaram a reação do grupo de românticos, encabeçados pelo professor e poeta Antônio Feliciano de Castilho que zombou e criticou os novos poemas numa carta a Pinheiro Chagas, em que ironizava os jovens realistas dizendo que lhes faltava “bom senso e bom gosto”.
Características
O Realismo aparece como uma reação ao Romantismo e se desenvolve a partir da observação da realidade, com uso da razão e da ciência, evidenciando o desenvolvimento científico, que se volta para a valorização da intelectualidade, o que culmina no Cientificismo, como consequência surge o Materialismo em oposição à metafísica, tão valorizada no movimento anterior, o Romantismo.
No Realismo vê-se clara reação contra as excentricidades românticas, como o egocentrismo. Vê-se respeito pela objetividade dos fatos, pelos estudos políticos e sociais, como o Positivismo de Augusto Comte e o Determinismo geográfico e biológico (de Hypolyte Taine). Valoriza-se as ciências exatas e experimentais, como o Evolucionismo, de Charles Darwin, a Dialética, de Hegel, e pelo progresso tecnológico.
O eu perde lugar para a sociedade e existe uma preocupação por descrever, analisar e até criticar a realidade, pois, motivados pelas teorias científicas e filosóficas, os escritores realistas desejavam captar o homem e a sociedade em sua totalidade, isto é, em seu cotidiano massacrante, no amor adúltero, no egoísmo humano e nas diferenças de classes.
Stendhal e Balzac foram os precursores do realismo literário, retratando a sociedade francesa. Balzac olha os indivíduos como representantes de grupos sociais, e esses indivíduos só possuem significado dentro das narrativas se expressarem as vivências e as ideias de seus grupos. Stendhal desenvolve o método analítico de observação psicológica, seus personagens são construídos através de pormenores mínimos.
Gustave Courbet foi um famoso pintor realista francês que se preocupou em retratar cenas do cotidiano, buscando ser fiel à realidade que o cercava. A tela Os quebradores de pedras, abaixo, marca o compromisso de Courbet com a estética realista e com o Realismo, isto é, com o enfrentamento direto da realidade, descartando qualquer tipo de ilusionismo, pois Courbet era simpatizante das posições anarquistas de Proudhon e teve participação decisiva na Comuna de Paris.
Em um artigo de 1857, Le Réalisme, o jornalista francês Jules François Félix Husson Champfleury transferiu os conceitos da pintura de Courbet para a literatura, e no mesmo ano, publicou-se o romance Madame Bovary, de Flaubert, que retrata a burguesia a partir das emoções de uma mulher infeliz da classe média, Ema Bovary.
Ema Bovary sonha com uma vida diferente e excitante, mas decepciona-se com o marido e com a busca por mundo de beleza, colhido nos textos românticos.
Veja a definição que o escritor Eça de Queirós dá de Realismo[1]:
“Que é pois o Realismo? É uma base filosófica para todas as concepções do espírito - uma lei, uma carta, uma guia, um roteiro do pensamento humano na eterna religião do belo, bom e do justo [...]; é a negação da arte pela arte, é a proscrição do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção [...]; é a análise com fito na verdade absoluta. Por outro lado, o Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem [...] para condenar o que houver de mau na sociedade.”
[1] QUEIRÓS, Eça In MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p.231.
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