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segunda-feira, 26 de março de 2012

Realismo: características gerais

Contexto social e histórico do Realismo (1865-1890)
A segunda metade do século XIX é marcada pelo cientificismo (valorização das ciências) e por uma demanda material e ideológica gerada pela Revolução Industrial. Aparecem teorias positivistas que valorizam o progresso e o conhecimento. Com os novos modos de produção, surge uma grande massa de operários explorados e marginalizados, o proletariado.
Assim, um novo cenário social se constrói: a pobreza tornou-se um problema associado à industrialização. Como o número de vagas de trabalho era insuficiente, havia uma grande quantidade de camponeses perdidos nas grandes cidades, vivendo da mendicância.
Os artistas dessa época passaram a adotar uma visão mais objetiva da realidade, por meio do uso da razão.
Em Portugal, a crise se dá no setor agrário. Camponeses, soldados e a pequena burguesia se revoltam. O país é totalmente dependente da Inglaterra e a monarquia encontra-se enfraquecida. Em 1851, por meio de um golpe político, o marechal Saldanha institui a monarquia parlamentarista (nos moldes ingleses) e se inicia o período de Regeneração (1851-1910).
A produção literária
O Realismo tem origem francesa, e inicialmente surge nas artes plásticas, quando Flaubert publica Madame Bovary, um retrato crítico da hipocrisia da sociedade burguesa e romântica. Dez anos depois, Émile Zola publica Thérèse Raquin e dá origem ao extremismo realista, o Naturalismo.
Como vimos, várias teorias deram fundamento ideológico ao Realismo, como o determinismo de Hippolite Taine, o positivismo de Augusto Comte, o socialismo utópico de Proudhon, o evolucionismo de Charles Darwin, entre outras, que serão exploradas quando tratarmos da prosa realista, na qual foram amplamente utilizadas.
Em 1861, o grande poeta Antero de Quental fundou a Sociedade do Raio composta por duzentos estudantes da Universidade de Coimbra propensos a romperem com o convencionalismo acadêmico do Romantismo. Empolgado com as novas ideias revolucionárias, Antero de Quental editou Odes modernas. Essas novidades provocaram a reação do grupo de românticos, encabeçados pelo professor e poeta Antônio Feliciano de Castilho que zombou e criticou os novos poemas numa carta a Pinheiro Chagas, em que ironizava os jovens realistas dizendo que lhes faltava “bom senso e bom gosto”.
Com a resposta de Antero de Quental inicia-se a famosa Questão Coimbrã, considerada o marco literário do Realismo em Portugal. Essa questão consistiu em uma crise acadêmica, na qual diversos textos ofensivos foram trocados. De um lado, os românticos, veteranos e mestres na academia, liderados por Castilho. De outro, os rebeldes estudantes da Sociedade do Raio. Houve inclusive ataques físicos, como o duelo entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão.
O Realismo português foi bastante organizado, repleto de encontros e estudos sobre o novo estilo. Nunca a literatura portuguesa havia conseguido alcançar tal feito.
As Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense, em 1871, nas quais se discutiam filosofia e literatura, representam a consolidação dos ideais realistas em Portugal. Participaram dessas reuniões o famoso romancista Eça de Queirós e o poeta, folclorista e futuro presidente de Portugal, Teófilo Braga.


Características

O Realismo aparece como uma reação ao Romantismo e se desenvolve a partir da observação da realidade, com uso da razão e da ciência, evidenciando o desenvolvimento científico, que se volta para a valorização da intelectualidade, o que culmina no Cientificismo, como consequência surge o Materialismo em oposição à metafísica, tão valorizada no movimento anterior, o Romantismo.
No Realismo vê-se clara reação contra as excentricidades românticas, como o egocentrismo. Vê-se respeito pela objetividade dos fatos, pelos estudos políticos e sociais, como o Positivismo de Augusto Comte e o Determinismo geográfico e biológico (de Hypolyte Taine). Valoriza-se as ciências exatas e experimentais, como o Evolucionismo, de Charles Darwin, a Dialética, de Hegel, e pelo progresso tecnológico.
O eu perde lugar para a sociedade e existe uma preocupação por descrever, analisar e até criticar a realidade, pois, motivados pelas teorias científicas e filosóficas, os escritores realistas desejavam captar o homem e a sociedade em sua totalidade, isto é, em seu cotidiano massacrante, no amor adúltero, no egoísmo humano e nas diferenças de classes.
Stendhal e Balzac foram os precursores do realismo literário, retratando a sociedade francesa. Balzac olha os indivíduos como representantes de grupos sociais, e esses indivíduos só possuem significado dentro das narrativas se expressarem as vivências e as ideias de seus grupos. Stendhal desenvolve o método analítico de observação psicológica, seus personagens são construídos através de pormenores mínimos.
Gustave Courbet foi um famoso pintor realista francês que se preocupou em retratar cenas do cotidiano, buscando ser fiel à realidade que o cercava. A tela Os quebradores de pedras, abaixo, marca o compromisso de Courbet com a estética realista e com o Realismo, isto é, com o enfrentamento direto da realidade, descartando qualquer tipo de ilusionismo, pois Courbet era simpatizante das posições anarquistas de Proudhon e teve participação decisiva na Comuna de Paris.
Em um artigo de 1857, Le Réalisme, o jornalista francês Jules François Félix Husson Champfleury transferiu os conceitos da pintura de Courbet para a literatura, e no mesmo ano, publicou-se o romance Madame Bovary, de Flaubert, que retrata a burguesia a partir das emoções de uma mulher infeliz da classe média, Ema Bovary.
Ema Bovary sonha com uma vida diferente e excitante, mas decepciona-se com o marido e com a busca por mundo de beleza, colhido nos textos românticos.
Veja a definição que o escritor Eça de Queirós dá de Realismo[1]:
“Que é pois o Realismo? É uma base filosófica para todas as concepções do espírito - uma lei, uma carta, uma guia, um roteiro do pensamento humano na eterna religião do belo, bom e do justo [...]; é a negação da arte pela arte, é a proscrição do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção [...]; é a análise com fito na verdade absoluta. Por outro lado, o Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem [...] para condenar o que houver de mau na sociedade.”




[1] QUEIRÓS, Eça In MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p.231.

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