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segunda-feira, 26 de março de 2012

autores do classicismo português: Sá de Miranda e Camões

Sá de Miranda

Francisco Sá de Miranda nasceu em Coimbra, provavelmente em 1481 e faleceu em 1558. Segundo Massaud Moisés, seus poemas foram somente editados em 1595, com uma edição crítica em 1885. Como dissemos anteriormente, o poeta levou a medida nova a Portugal, mas não deixou de lado a medida velha, misturando a então atualidade renascentista às tradições medievais, como também fez Camões.

Em seus poemas, já podemos observar a dualidade do escritor clássico português, pelo uso de muitos paradoxos e antíteses. Temas filosóficos sobre a efemeridade do tempo também lhe eram comuns.

Vejamos, desse autor, uma redondilha maior (verso de 7 sílabas poéticas), caracterizando a medida velha:

Comigo me desavim,

sou posto em todo perigo;

não posso viver comigo

nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,

antes que esta assi crescesse;

agora já fugiria

de mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim

do vão trabalho que sigo,

pois que trago a mim comigo,

tamanho imigo de mim?

Observe o paradoxo em “não posso viver comigo, nem posso fugir de mim” e como o eu lírico expõe um conflito pessoal ao admitir-se como seu inimigo próprio inimigo.

Observe também como a linguagem lírica é mais clara aqui, diferentemente do Trovadorismo, pois aqui a língua portuguesa já estava de todo separada do galego português.

Agora veja um soneto, isto é, a medida nova ou versos decassílabos:

O sol é grande: caem coa calma as aves,

Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.

Esta água que de alto cai acordar-me-ia,

Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudáveis,

Qual é tal coração que em vós confia?

Passam os tempos, vai dia trás dia,

Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,

Vi tantas águas, vi tanta verdura,

As aves todas cantavam de amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mistura,

Também mudando-me eu fiz doutras cores.

E tudo o mais renova: isto é sem cura!

Vocabulário: coa: com a; sazão: estação; sói: costuma, é comum; mudáveis: que mudam

Veja nos versos em destaque a preocupação com a efemeridade do tempo, temática comum aos poetas da antiguidade e aos renascentistas: tudo passa, tudo é vão, os dias passam e o eu lírico se mostra angustiado.

Luís Vaz de Camões

Segundo Massaud Moisés, as informações biográficas de Camões são incertas. Teria nascido em 1524 em Lisboa, Coimbra ou Santarém. Filho de família nobre, supostamente teve acesso à vida palaciana e contato com as obras de Homero, Petrarca, Virgílio, entre outros. Culto e de boa aparência, desfrutou de vários amores proibidos, inclusive a infanta D. Maria, filha do rei D. Manuel. Consta que sua vida amorosa tenha-o levado ao exílio em Ceuta, como soldado raso. Lá perdeu um olho. Passou por diversas aventuras em Macau (China), Moçambique (África) e Goa (Índia), colônias portuguesas. Era um homem das letras e das armas.

Em 1572, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pensão anual de quinze mil réis, mas morreu pobre e abandonado em 1580.

Camões épico

Os Lusíadas, publicado em 1572, é um poema épico ou epopeia e segue os moldes clássicos do gênero, a saber: a Odisseia e a Ilíada, de Homero e a Eneida, de Virigílio.

Camões, como poeta renascentista, cultivava a arte como mimeses, como representação da realidade. Várias características renascentistas citadas anteriormente podem ser observadas em seus versos, como o racionalismo, universalismo, busca da perfeição formal, imitação dos clássicos, entre outras.

O que diferencia a obra de Camões das epopeias clássicas, há um grande herói, cujos feitos são exaltados, como os atos de Ulisses, por exemplo, na Odisseia. Na obra de Camões, no entanto, os heróis são os “lusíadas”, os lusos, o povo português.

O extenso poema Os Lusíadas representa o espírito do novo, trazido pela renascença, e é formado por 10 cantos, 1101 estrofes em oitava rima (ABABABCC) e 8816 versos decassílabos heróicos (com acentuação na sexta e décima sílaba poética) e sáficos (acentuação na quarta, oitava e décima sílaba poética). Cada canto tem um número variável de estrofes (em média, 110). O canto mais longo é o 10.º, com 156 estrofes.

Os Lusíadas, assim como todo poema épico, é dividido nas seguintes partes:

Proposição

Camões exalta o heroísmo do povo português.

Invocação

O poeta invoca as ninfas do rio Tejo, Tágides, como suas musas inspiradoras.

Dedicatória

Os Lusíadas é dedicado ao rei D. Sebastião.

Narração

A narração divide-se em dois planos, o mítico, que menciona deuses gregos participando como coadjuvantes do enredo e ohistórico, que trata da viagem de Vasco da Gama às Índias e de outros grandes feitos de Portugal.

Epílogo

A obra se encerra de forma lamentosa e crítica, pois o país que fora um grande império, já se encontrava em momentos de decadência.

Os planos temáticos da obra são quatro:

§ Plano da Viagem

§ Plano da História de Portugal

§ Plano do Poeta

§ Plano da Mitologia

Os Lusíadas são uma obra narrativa, mas os seus narradores são quase sempre oradoresque fazem discursos grandiloquentes: o narrador principal é Vasco da Gama, mas também aparecem como narradores Paulo da Gama, a ninfa Tétis e a Sirena no canto X, que profetiza ao som de música.

Dessa forma, o poema apresenta um ecletismo religioso, evidenciado pela coexistência da história com o maravilhoso, isto é, a mitologia greco-romana costura-se a um catolicismofervoroso. Protegidos pelos deuses, os portugueses procuram impor aos infiéis mouros sua fécristã, por outro lado é perceptível a existência de inúmeros deus ex machina. Os lusitanos sãoprotegidos por uma deusa pagã: Vênus. Baco (o Dioniso dos gregos), amigo do vinho e dodesregramento, é o inimigo maior dos portugueses (com chifres e rabo,imagem que foi utilizadapela igreja católica para representar o demônio), poderíamos dizer que o desregramento é o grande vilão no Renascimento, posto que se opõe ao equilíbrio.

Todo esse fervor religioso não impede a utilização pelo poeta do erotismo de cunho pagão,como no episódio da Ilha dos Amores (Canto IX, estrofes 68 a 95), em que a "Máquina doMundo" é apresentada aos portugueses.

Nessa passagem do final do poema o plano mítico – dos deuses – e o histórico – dos homens– encontram-se: os portugueses são elevados simbolicamente à condição de deuses, pois sóaos últimos é permitido contemplar a “Máquina do Mundo”.

Veja abaixo um trecho do Canto I, trecho bastante conhecido, que anuncia o Novo Reino, um império cristão, cheio de fé e de feitos heróicos, o que enaltece a nação portuguesa.

Canto I – Proposição

As armas e os barões assinalados,

Que da Ocidental praia Lusitana

Por mares nunca de antes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas

Daqueles reis que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;

E aqueles, que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando,

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Netuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

Vocabulário:

barões: varões, homens

taprobana: antigo nome do Ceilão

Grego: refere-se a Ulisses, herói da Odisseia

Troiano: refere-se a Enéias, herói da Eneida

Alexandro: Alexandre Magno,rei da Macedônia

Trajano: imperador romano

Veja, abaixo, como o Canto I termina com uma fala do poeta que reflete a fragilidade do ser humano. É um momento de lirismo, dentro do poema épico.

No mar tanta tormenta, e tanto dano,

Tantas vezes a morte apercebida!

Na terra tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade aborrecida!

Onde pode acolher-se um fraco humano,

Onde terá segura a curta vida,

Que não se arme e se indigne o céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno?

Outro episódio famoso é o de Inês de Castro, grande amor de Pedro I (Portugal) que foi morta grávida pelo próprio pai de Pedro, D. Afonso e coroada rainha depois de morta.

Há nesse episódio uma exceção quanto ao gênero, que é lírico, voltado para as emoções do sujeito poético, diferindo do gênero épico que caracteriza o restante do poema. Vejamos um trecho.

Canto III - Inês de Castro

Passada esta tão prospera vitória,

Tornado Afonso à Lusitana terra,

A se lograr da paz com tanta glória

Quanta soube ganhar na dura guerra,

O caso triste, e digno da memória

Que do sepulcro os homens desenterra,

Aconteceu da mísera e mesquinha

Que depois de ser morta foi Rainha.[...]

Estavas, linda lnês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a Fortuna não deixa durar muito;

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus fermosos olhos nunca enxutos,

Aos montes ensinando e às ervinhas,

O nome que no peito escrito tinhas.[...]

Tirar Inês ao mundo determina,

Por lhe tirar o filho que tem preso;

Crendo co sangue só da morte indigna,

Matar do firme amor o fogo aceso.

Que furor consentiu que a espada fina,

Que pôde sustentar o grande peso

Do furor Mauro, fosse alevantada

Contra üa fraca dama delicada?

O episódio abaixo, do Velho do Restelo, é bastante significativo, pois critica a validade das grandes navegações, que trouxeram a glória, mas também a morte. Tal episódio é revisto na obra Mensagem de Fernando Pessoa, que eternizou os versos “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Canto IV - Velho do Restelo

Mas um velho, de aspecto venerando,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, meneando

Três vezes a cabeça, descontente;

A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

Cum saber só d'experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:

Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

Cüa aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho, e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

Camões lírico

Camões emprega todo seu “engenho e arte” para compor belíssimos poemas líricos que abarcam desde a tradição medieval até as novas técnicas renascentistas. O poeta foi um dos maiores sonetistas da língua portuguesa. Vemos em seus versos uma evolução estética, um aprimoramento da literatura e da própria língua portuguesa. Até hoje, a lírica camoniana é uma fonte de inspiração para diferentes gerações.

Há uma variedade de temas abordados pelo poeta em seus poemas, que de tão universais, são atuais e eternos. O poeta reflete sobre o amor e as questões filosóficas que ainda hoje nos angustiam, tais como:

  1. o amor platônico;
  2. a perda da amada;
  3. o desconcerto do mundo;
  4. a própria atividade poética, com o uso da metalinguagem;
  5. a instabilidade dos sentimentos e da realidade;
  6. a busca pela perfeição física e moral.

Quanto às formas utilizadas por Camões em sua lírica, encontramos diversos tipos de poema, como sonetos, sextilhas, oitavas, éclogas, elegias e odes.

Didaticamente, dividimos poesia lírica em dois conjuntos: medida velha, composta geralmente por versos redondilhos (cinco ou sete sílabas poéticas), resgatando estruturas e temas medievais; e a medida nova, composta pelos sonetos, feitos em versos decassílabos (10 sílabas poéticas) de inspiração clássica.

Medida velha

Como exemplo, citaremos um vilancete em versos redondilhos, no qual temos inicialmente um mote - conjunto de versos que introduzem o tema - e duas voltas ou glosas - estrofes nas quais o tema é desenvolvido. No poema abaixo, o assunto é a beleza e a perfeição formal de uma camponesa, Lianor, que evidencia traços de discreta sensualidade quando diz que a touca descobre sua garganta. Naquela época, antever alguma parte do corpo feminino, como os pés ou o pescoço era de grande comoção para os homens.

Observe a sonoridade dos versos e a singeleza da descrição.

Descalça vai pera fonte

(mote)

Descalça vai pera fonte

Lianor, pela verdura;

Vai fermosa e não segura.

(volta)

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

cinta de fina escarlata,

Sainho de chamalote;

Traz a vasquinha de cote,

Mais branca que a neve pura;

Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,

Cabelos d’ouro o trançado,

Fita de cor d’encarnado...

Tão linda que o mundo espanta!

Chove nela graça tanta

Que dá graça à fermosura;

vai fermosa, e não segura.

Vocabulário:

testo: tampa de panela

pera: pela

fermosa: formosa

sainho de chamalote: espécie de casaco

vasquina de cote: saia de pregas

Veja a escansão do verso em redondilha maior, com 7 sílabas poéticas:

Le/va/na/ca/Be/ça o/PO/te

1 2 3 4 5 6 7

A última sílaba átona não é contada.

Medida nova

A medida nova, já explorada pelo humanista Petrarca e levada por Sá de Miranda da Itália para Portugal, constitui-se como uma inovação quanto ao estilo, com o uso do soneto em versos decassílabos. Essa foi uma grande novidade para a poética portuguesa e revista por diversas gerações, graças ao talentoso Camões. O soneto apresenta 14 versos, sendo divididos em duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos.

No soneto a seguir podemos observar várias características clássicas. Como no poema sobre Lianor, também teremos a descrição de uma mulher, com o retrato de sua perfeição moral e física. Observe a racionalidade na composição dos versos, simétricos e ordenados, em que a última estrofe assume a função de conclusão. Há a busca do equilibrio formal, com o uso de versos decassílabos, vocabulário culto e esquema de rimas fixo: interpoladas ABBA, ABBA e cruzadas CDE,CDE.

O resgate da cultura greco-latina pode ser observado pela referência a Circe, feiticeira que aparece na Odisseia.

O poeta descreve uma mulher que, apesar de sua aparência meiga e discreta, o enfentiça. Há uma certa ambiguidade entre sua pureza e sua sensualidade.

Veja a escansão de um verso decassílabo sáfico:

Um/ mo/ver/ D'O/lhos/, bran/do e /PI/e/DO/so,

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Um mover d'olhos, brando e piedoso,

sem ver de quê; um riso brando e honesto,

quase forçado; um doce e humilde gesto,

de qualquer alegria duvidoso;

um despejo quieto e vergonhoso;

um repouso gravíssimo e modesto;

uma pura bondade, manifesto

indício da alma, limpo e gracioso;

um encolhido ousar; uma brandura;

um medo sem ter culpa; um ar sereno;

um longo e obediente sofrimento;

esta foi a celeste formosura

da minha Circe, e o mágico veneno

que pôde transformar meu pensamento.

Vocabulário:

honesto: ingênuo

despejo: atitude

vergonhoso: tímido


O que é Clássico?

Veja abaixo o texto de Italo Calvino.

O que é um clássico?

O termo clássico surgiu derivado d o adjetivo latino classicus, que indicava o cidadão pertencente às classes mais elevadas de Roma. No século II d.C. um certo Aulo Gelio (Noctes Atticae) utilizou-o para designar o escritor que por suas qualidades literárias poderia ser considerado modelar em seu ofício: "Classicus scriptor, non proletarius."
Durante o Renascimento, o termo clássico reapareceria, seja em textos latinos, seja nas línguas vernáculas, referindo-se tanto a autores greco-latinos quanto a autores modernos da própria época, considerados modelos de linguagem literária na língua vernácula.
No século XVIII - o termo se estenderia aos autores que aceitavam os cânones da retórica greco-latina: ordem - clareza - medida - equilíbrio - decoro - harmonia e bom gosto.
Tornou-se, pois, a base de uma estética essencialmente normativa. Assim, clássico indicando modelo exemplar cristalizou-se como tradição, como cânone gramatical e semântico, como relicário do idioma e como um conjunto de regras imutáveis, isto é, universais e ahistóricas. No plano da mensagem, o que valia para caracterizar um clássico era a sua dimensão edificante, seus componentes morais e a sua capacidade de apresentar as paixões humanas de forma decorosa.

No século XIX, a grande rebelião romântica começou a destruir a rigidez conservadora que envolvia a idéia de uma obra clássica. Victor Hugo mandou as regras às favas, abrindo um caminho mais liberto para a criação literária. Contudo, foram as vanguardas das primeiras décadas do século XX - especialmente Futurismo e Dadaismo - que levaram a ruptura com o classicismo às ultimas conseqüências, propondo, a exemplo de Marinetti, a destruição de bibliotecas, museus e tudo aquilo que representasse o "peso vetusto da tradição".

Passado o furor das vanguardas, o que ficou? No plano do senso comum, clássico hoje indica uma obra artística superior, definitiva e que, por seus vários elementos estético-ideológicos, aproxima-se daquilo que (de forma mais ou menos nebulosa) chamaríamos de perfeição. Porém esta obra não tem mais o sentido normativo que possuía no passado já que sua beleza lhe é irredutivelmente própria.

Verdade que, nas escolas, a reverência exagerada aos clássicos - sobretudo aos da Antigüidade - veio até a década de 1960, ao ponto de muitos de nós, professores, termos sido torturados, nas aulas de língua portuguesa, com a análise sintática de Os Lusíadas.
As sucessivas mudanças culturais, corridas no Ocidente, especialmente a partir dos anos de 1960, quebraram toda e qualquer idéia de obra modelar e instauraram um conceito mais amplo e flexível do que seria um clássico.


O que delimita um clássico?


Esquematicamente poderíamos apontar alguns traços definidores do que hoje se considera um texto clássico:


1. São obras que ultrapassam o seu tempo, persistindo de alguma maneira na memória coletiva e sendo atualizada por sucessivas leituras, no transcurso da história.

2. Apresentam paixões humanas de maneira intensa, original e múltipla. São paixões universais (ou pelo menos "ocidentais") e têm um grau de maior ou menor flexibilidade em relação à historicidade concreta.

3. São obras que registram e simultaneamente inventam a complexidade de seu tempo. De maneira explícita ou implícita desvelam a historicidade concreta, as idéias e os sentimentos de uma época determinada. Há uma tendência geral: quanto mais explícita for a revelação histórica, menor o resultado estético. Na verdade, o espírito da época deve estar introjectada na experiência dos indivíduos.

4. São obras que criam formas de expressão inusitadas, originais e de grande repercussão na própria história literária. Há clássicos que interessam em especial (ou talvez unicamente) ao mundo literário, como, por exemplo, o Ulisses, de Joyce.

5. São obras de reconhecido valor histórico ou documental, mesmo não alcançando a universalidade inconteste. Nesta linha situam-se aquelas obra que são clássicas apenas na dimensão da história literária de um país, como por exemplo, a obra de José de Alencar, ou apenas de uma região, como por exemplo as obras de Cyro Martins ou Aureliano de Figueiredo Pinto.

6. Talvez a característica fundamental de uma obra clássica seja a sua inesgotabilidade. Ou como diz Calvino: "Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer".

7. Um clássico é fundamental também pelo efeito que deflagra na consciência do leitor. Sob esta ótica, devemos considerar que ele é, simultaneamente:


• Forma única de conhecimento - transmite paixões humanas oriundas de um patrimônio universal (que é a experiência do homem);

• Utilização da linguagem de uma maneira exemplar, original e inesperada;

• Um conjunto de revelações, idéias e sentimentos que têm a propriedade de durar na memória mais do que outras manifestações artísticas (música, cinema, etc.) Estas podem ter (e geralmente têm) um impacto maior na hora da fruição, mas seu prolongamento emotivo - a sua duração - é mais breve e inconsistente do que o proporcionado pela grande obra literária.

• Um não contra a morte. Por perdurar, a obra clássica ultrapassa o tempo e a finitude humana. De uma certa forma, é um protesto contra o sem sentido da vida.

Origens do Renascimento


CLASSICISMO (1527-1580)

O século XVI coincide com uma nova proposta artística e cultural que apresenta outra concepção de mundo e do homem: O Classicismo.

Aqui a poesia se separa da música e se mostra mais importante que a prosa.

Renascimento: Contexto social e histórico

Também conhecido como quinhentismo, tem início, em Portugal, em 1527, quando Sá de Miranda traz da itália o estil nuovo, isto é, o verso decassílabo na forma do soneto.

No Renascimento, o homem se redescobre e descobre uma nova visão do mundo, cuja identificação se dá com a cultura greco-latina, resgatando as noções de Beleza, Bem e Verdade e, rompendo com a religiosidade marcante da Idade das Trevas, resgata os deuses da mitologia grega, que possuem características humanas, distantes da perfeição do deus cristão. Assim, é fácil perceber que o Racionalismo passa a imperar, em detrimento de uma visão mística do mundo. Esses aspectos, já cultuados na Antiguidade Clássica, passam a ser copiados e tidos como modelo.

Ocorreram transformações nas artes plásticas, na arquitetura, na música e na literatura, desencadeando várias mudanças econômicas e políticas. Foi uma sucessão natural ao Humanismo, reflexo das transformações que já vinham ocorrendo em todo o Ocidente.

O homem renascentista procura compreender o mundo sob a luz da razão, buscando o equilíbrio entre razão e emoção, o que pode ser observado nas obras dos pintores renascentistas italianos, até hoje bastante apreciados, como Rafael, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Boticceli, entre outros. Suas obras apresentam novas técnicas que acentuam a valorização do homem, que passa a ser o centro dos estudos, é o Antropocentrismo, que se preocupa em exaltar a natureza humana, há também a busca pelo equilíbrio, pela beleza e pela perfeição, por isso a é poça é marcada, nas artes, pelo aprimoramento técnico, como o das obras da antiguidade.

No âmbito religioso, embora as motivações também fossem econômicas, podemos destacar a Reforma Protestante em suas diversas vertentes (Luteranismo, Calvinismo e Anglicismo). Tal reforma provocou modificações também na própria Igreja Católica, culminado na Contrarreforma.

A Inquisição, uma das conseqüências da tentativa da Igreja de se consolidar novamente, foi oficialmente instituída em 1540, incumbia-se de censurar tudo aquilo que não estivesse de acordo com os padrões católicos, impedindo, assim, o desenvolvimento científico e cultural. Um exemplo disso ocorreu em Portugal, o que deixou o país aquém das outras nações europeias. Escritores como Gil Vicente e Camões foram chamados de “agentes contra a fé e os costumes”.

Por outro lado, do ponto de vista político, vivia-se o chamado absolutismo monárquico, com reis fortes, independentes do clero, do Papa e de outros países.

Economicamente, o mercantilismo se estabelecia, como uma consequência das grandes navegações, iniciadas no final do século XV. Devido a elas e aos descobrimentos, Portugal encontra no século XVI, seu período mais glorioso. Houve avanços nas técnicas de navegação, na astronomia, na matemática e na medicina. Novas terras foram descobertas, novos valores e costumes conhecidos. No reinado de D. João III (1521-1557) houve inclusive a reforma das universidades, adaptando-as aos novos tempos.

Contudo, vários conflitos se estabeleceram: por um lado uma burguesia mercante, com uma nova visão de mundo; por outro, a tradicional e religiosa nobreza. Outro fator importante se deve ao fato de que economicamente, Portugal não tinha como investir em suas colônias. Era um grande império cheio de dívidas com os países protestantes, especialmente a Inglaterra. Havia um grande incentivo às artes, mas uma forte repressão religiosa. Assim, podemos observar que o Renascimento português estava repleto de contradições.

A produção literária

Na época do Renascimento, às manifestações artísticas, incluindo a literatura, deu-se o nome de Classicismo, devido à inspiração vinda dos gregos e romanos.

Em 1527, o poeta Sá de Miranda regressa a Portugal, depois de seis anos na Itália. Com ele, trouxe várias novidades com relação à poesia, bem como formas poéticas já utilizadas pelos antigos gregos, contaminando a todos seus compatriotas, a destacar-se o grande Luís de Camões.

Considera-se então o início do Classicismo em 1527. Os ideais clássicos predominam em Portugal até a morte de Camões em 1580, quando, coincidentemente, o país passa para o domínio espanhol.

Características clássicas

Podemos observar abaixo algumas das características mais importantes do Renascimento.

Imitação dos autores greco-romanos

Homero, Aristóteles, Cícero, Virgílio e Horácio.

Preocupação com a forma

Exigência quanto a métrica e a rima dos poemas; correção gramatical, clareza na expressão do pensamento, a sobriedade e a lógica.

Construção frasal

Inversão dos termos na oração, influência latina.

Utilização da mitologia greco-latina

Efeito mais artístico, os mitos simbolizam ações, demonstram sentimentos e atitudes humanas.

Universalidade e impessoalidade

Preocupação com verdades universais.


De acordo com as características acima mencionadas a arte, no período renascentista, tinha a pretensão de ser bela e buscavam uma representação pautada na mimesis, segundo os preceitos da Poética, de Aristóteles.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Gil Vicente (1465 - 1536)


Em 1502, encena sua primeira peça, o Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação, na câmara da rainha D. Maria, em comemoração ao nascimento do futuro rei D. João III.

Durante trinta e quatro anos, Gil Vicente fez com que mais de quarenta peças fossem representadas, nos dando um amplo panorama da sociedade portuguesa da época.

Valeu-se de elementos tipicamente populares desenvolvidos na Idade Média, como as narrativas das novelas de cavalaria, os milagres e mistérios que eram provavelmente encenados nas igrejas e as farsas com objetivos satíricos. A isso tudo acrescentou a comicidade, a religião, o mistério, o lirismo trovadoresco e a crítica social. Esta última característica pode ser considerada seu traço mais humanista.

Segundo o crítico literário Massaud Moisés, as peças vicentinas são apenas indicações para a atuação. Cabia então ao ator, improvisar sobre o texto base, ampliando as falas e incluindo mímicas.

Características do teatro vicentino:

teatro alegórico

Objetos e personagens que representam abstrações ou idéias como o Bem e o Mal.

personagens tipo

Representam uma determinada classe social, profissão, sexo, idade

teatro cômico e satírico

A maioria das peças são comédias de costumes, seguindo o lema latino de Plauto: “ridendo castigat mores” (pelo riso corrigem-se os costumes)

Outras características: ruptura da linearidade temporal e despreocupação com a verossimilhança; falas das personagens em versos; linguagem apresenta aspectos arcaizantes.

Comicidade

comicidade de caráter

as características psicológicas das personagens levavam ao riso. Pero Marques (Farsa de Inês Pereira) é tímido, simples e sem modos

comicidade de situação

as atitudes das personagens eram cômicas. Pero Marques ao pedir Inês em casamento comportou-se como um simplório, que mal sabe sentar-se em uma cadeira

comicidade da linguagem

o autor utilizava vários recursos linguísticos como ironia, trocadilhos, ditos populares, gírias e palavrões.