Contexto social e histórico
Com as navegações, há um amplo desenvolvimento do comércio e das cidades. Assim, o feudalismo passa a dar lugar ao sistema mercantil. A noção de um destino sujeito a forças ocultas é substituída por uma visão mais prática, guiada pelo lucro. Não só o feudalismo entra em decadência, mas também o teocentrismo. Aos poucos, ele passa a conviver com o antropocentrismo, que valoriza o ser humano e seus feitos, colocando o homem como centro do universo.
Em 1383, com receio de perder sua soberania para Espanha, a massa popular se apodera do trono e elege seu líder como herdeiro, Mestre de Avis, D. João I, filho bastardo de D.Pedro I (em Portugal).
A produção literária
O início do Humanismo em Portugal ocorreu em 1434, quando o rei D. Duarte nomeou Fernão Lopes como guarda-mor da Torre do Tombo e o incumbiu de escrever crônicas sobre os reis portugueses.
Historiografia-crônicas de Fernão Lopes
As crônicas constituem excelentes registros dos costumes e da história de Portugal. Contudo, Fernão Lopes distingue-se dos demais historiadores devido à importância que dava às pessoas do povo, personagens coadjuvantes em relação aos reis. Suas crônicas apresentam um espírito humanista, sendo relevantes tanto para a História como para a Literatura.
Poesia palaciana
A poesia do período humanista passa a ser mais cultivada a partir de 1450, com a presença de D. Afonso V. Essa poesia, conhecida como poesia palaciana, tem, como principais características, a autonomia em relação à música, o que contribui para inovações em relação ao ritmo e a musicalidade, e o uso de temas ligados à vida social da corte. Apesar disso, a poesia dessa época é de pouca expressividade se comparada aos outros gêneros desenvolvidos, como o teatro de Gil Vicente.
Veja abaixo um exemplar da poesia palaciana atribuído a João Ruiz de Castelo Branco.
Cantiga sua partindo-se
Senhora partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Veja que apesar da ausência do acompanhamento musical, a poesia mantém a musicalidade no interior dos versos, valendo-se de rimas (ABAB, CDCCD, ABAB) e da métrica. A repetição do advérbio “tão”, marca o texto com uma tristeza pungente, e as aliterações das consoantes nasais contribuem para alongar a tristeza do eu lírico.
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