Cantiga Satíricas
As cantigas satíricas possuem apelo popular por seu caráter cômico e transgressivo. Tinham o intuito de satirizar os aspectos da vida feudal, sem poupar nenhuma camada social, atingindo nobreza, clero e o povo. Essas cantigas cultuam valores que estão associados ao riso, como o carnavalesco, a sátira e o cômico, o grotesco e o obsceno. Apresentam pouco valor estético, mas são bons documentos históricos, pois registram costumes da época.
A produção dessas cantigas era muito comum, sabemos que de 154 trovadores portugueses, 93 dedicaram-se à sátira.
Nas cantigas de escárnio, há uma crítica indireta e nas de maldizer, direta, inclusive com a citação de nomes. Contudo, muitas vezes é difícil diferenciá-las.
Cantigas de escárnio
As cantigas de escárnio constroem, por meio do humor e da ironia, uma crítica indireta, valendo-se da ambigüidade e do sarcasmo. Encobrem o nome da pessoa satirizada. Veja o exemplo abaixo:
Ai dona fea! Foste-vos queixar
porque vos nunca louv´en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi perdon!
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Essa cantiga mostra o trovador fazendo troça com uma dama que lhe cobrou uma trova, ele justifica dizendo que não fez nenhuma trova a ela mas que fará agora chamando-a de feia, velha e louca.
Cantigas de maldizer
Mais ofensivas que as de escárnio, as cantigas de maldizer satirizam de maneira direta. Emprega-se expressões grosseiras e palavras de baixo calão, veiculando, não raro, conteúdo obsceno. Veja exemplo:
Quen a sa filha quiserdar
mester, con que sábia guarir
a Maria Doming’ á-d’ir,
que a saberá bem mostrar;
e direi-vos que lhi fará:
ante dun mês lh’ amostrará
como sábia mui ben ambrar.
Ca me lhi vej’ eu ensinar
ua sa filha e nodrir;
e quen sas manhas ben cousir
aquesto pode ben jurar:
que, des Paris atees acá,
molher de seus dias non á
que tan ben s’acorde d’ ambrar.
E quen d’aver ouver sabor
non ponha sa filh’a tecer
nen a cordas nen a coser,
mentr’esta meestr’aqui for,
que lhi mostrará tal mester,
por que seja rica molher,
ergo si lhi minguar lavor.
E será en mais sabedor,
por estas artes aprender;
de mais, quanto quiser saber
sabê-lo pode muui melhor;
e, pois tod’esto bem souber,
guarrá assi como poder;
de mais, guarrá per seu lavor.
Nesse texto o trovador, de maneira bastante grosseira, ataca essa mulher, Maria Dominga, dizendo que aquele que quiser dar um ofício lucrativo a sua filha deve deixar que ela a instrua, insinuando que a mesma seja uma prostituta.
Veja mais cantigas no site abaixo:
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/trovador.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário