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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Trovadorismo I

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As cantigas de amor chegam em Portugal a partir de Provença, mais precisamente da região sul da Françaconhecida como Langue d´Oc ou Languedócio, no século XII (Baixa Idade Média). A primeira a desenvolver uma literaturasentimental, cortês, elegante e refinada que transforma a mulher no santuárioda inspiração lírica. A intensa influência romana, o clima mais ameno e aprosperidade econômica deram azo a um espírito mais lírico.
· Ao norte, onde predominava o espírito guerreiro, cultivou-se mais o heroísmo das novelas de cavalaria.
· A mensagem poética do trovador provençal é a deque o amor é fonte da poesia e é leal, inatingível e sem recompensa – é o finamors, ou o amor cortês, que traçou uma temática comum para as cantigasde amor, o convencionalismo amoroso, cujas características principais são:
o Submissão: vassalagem humilde e paciente.
o Mesura: discrição e moderação nalinguagem para não comprometer a reputação da dama.
o Elogio impossível: impossibilidadede traduzir em palavras os atributos e a formosura da dama.
o Erotismo/drama passional: perturbação dossentidos e a impossibilidade de se declarar diante de mulher tão pertubadora.
· Totalmente ligado à vida palaciana e à estruturade classes do mundo medieval, estrutura essa que é reproduzida pela poesia.
· O culto à mulher foi, mais tarde, substituído peloculto à virgem Maria, que a partir de 1209 foi imposto como tema oficial,depois das sanguinárias cruzadas do Papa Inocêncio III, por isso a líricaamorosa das cantigas de amor chegam para nós evidenciando uma postura maior deidealização da mulher amada.
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PORTUGAL
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É do século XII o mais antigo documentoliterário escrito na língua galego português ou galaico português a cantiga ARibeirinha (1198 ou 1189?), escrita por Paio Soares de Taveirós para MariaPais da Ribeira, amante de D. Sancho I. – a literatura desse período é predominantementepoética, feita sob as formas de cantigas, canções ou cantares. Aliteratura em prosa é posterior e só aparece no fim do séc.XIV.

· As cantigas trovadorescas dividiam-se em duasespécies principais: cantigas lírico amorosas e as cantigas satíricase maldizer, que eram transmitidas oralmente, por isso muitas se perderam e o quechegou até nós são aquelas que foram compiladas em cancioneiros (as cantigas eram registradas àmão por ordem de um mecenas ou de reis).

Os cancioneiros maisconhecidos das compilações peninsulares escritas em língua galego portuguesasão:
o Cancioneiro da ajuda – séc. XIII, portanto oúnico que remonta à época trovadoresca.
o Cancioneiro da Vaticana – na biblioteca doVaticano.
o Cancioneiro da Biblioteca Nacional – que incluium tratado da poética trovadoresca.
· Ao mesmo tempo em que as cantigas de origemprovençal contribuem para o aparecimento de uma lírica amorosa em Portugal, hájá, por ali, a prática de uma poesia mais rudimentar, inspirada na vidacampesina e doméstica e com inspiração na natureza, que dará origem às cantigasde amigo.

· Assim, as cantigas lírico amorosas compreendemas cantigas de amor e as cantigas de amigo.
o Cantigasde Amor: um eu lírico masculino que, como um vassalo, portantosubserviente, confessa seu amor a uma mulher inacessível, geralmente pela suaclasse social, muito diferente daquele, ou insensível aos apelos amorosos. Otom é sempre de lamúria e de queixa, e se submete a formalidades e convenções,obedecendo às regras de convivência na corte e do amor convencional da poesiaprovençal. Possui linguagem mais complexa e não costuma fazer uso do recursofacilitador do refrão.

Hun tal home sei eu, ai ben talhada,
que por vós tem a sa morte chegada;
vede quem é e seed’em nenbrada;
eu, mia dona.

Hun tal home sei eu que preto sente
de si morte chegada certamente;
vede quem é e venha-vos em mente;

eu, mia dona.

Hun tal home sei eu, aquest’oide:
que por vós morr’ e vo-lo em partide,
vede quem é e non xe vos obride;
eu, mia dona.

Vocabulário:
hun tal home, sei eu: euconheço um tal homem
ben talhada: formosa
seed’em nembrada:lembrai-vos disso
preto: perto
venha-vos em mente: tende em mente
aquest’oide: ouvi isso
vo-lo em partide: afastai-odisso (em – da morte)
non xe vos obride: não vosolvideis (esqueçais)


o Cantigasde amigo: não existiram na lírica provençal e têm origem popular, querexplica o vocabulário escasso, os arcaísmos e as repetições tanto no refrãocomo no paralelismo. Tem apelo à natureza e não raro é ambientada no meio ruralou marítimo. Assim, um eu lírico feminino, de camada social inferior (pastoraou camponesa), portanto distante da idealização da figura feminina da cantigade amor, essa moça, concebida de modo mais realista, está a espera de seuamigo, amado ou amante, e não raro queixa-se à mãe, às amigas ou a te mesmo ànatureza o descaso de seu amigo, ou o fato dele não chegar ao que combinaram.

As cantigas de amigo recebem nomes específicos, dependendo da maneiracomo são ambientadas:


Cantiga de Barcarola

no mar

Cantiga de Serranilha ou pastorela

no campo.

Cantiga de Bailada

em ambientes de festa

Cantiga de Romaria

em ambiente religioso


Ai flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
ai, Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi á jurado?
ai, Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss’amigo?
E eu ben vos digo que é san’e vivo:
ai, Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss’amado?
E eu ben vos digo que é viv’e sano
ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san’e vivo,
E seerá vosc’ant’o prazo saído:
ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv’esano.
E seerá vosc’ant’o prazo passado:
ai, Deus, e u é?

Vocabulário:
pino: pinheiro
u: onde
pôs: combinou
san’e vivo: São e vivo
e será vosc’ant’ o prazosaído/passado: e estará convosco quando for a hora certa.

Note que nas três primeiras estrofes o eu lírico feminino se dirige ànatureza, pedindo notícias de seu namorado. Nas últimas, a natureza lheresponde, tranquilizando-a.

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