A segunda fase do Modernismo
O Modernismo desdobrou-se em novas manifestações na década de 1930,
prolongando-se até meados da década seguinte.
Presenciou-se
momentos de importantes transformações na sociedade, marcados pela modernização
social do período entre guerras, fruto do crescimento industrial. Enquanto as
mudanças nos setores comercial e financeiro faziam com que o país deixasse de
ter um perfil econômico agrícola.
A Revolução
de 1930 marca o fim da primeira República, com um golpe que coloca Getúlio Vargas na presidência e tira de cena a supremacia política de São
Paulo e Minas Gerais. Em 1932, um movimento armado tenta destituir Getúlio do
poder, mas é derrotado. Três anos depois, a tentativa de um golpe de estado,
conhecido como a “Intentona Comunista”, é reprimido pelo governo de
Getúlio, que passa a perseguir os comunistas. Essa perseguição resulta na
instituição do regime do Estado Novo (1937 – 1945), que instaura no
Brasil o totalitarismo, já presente
na Europa de Hitler e Mussolini.
A partir desse
quadro coloca-se a necessidade de
repensar a realidade brasileira, repleta de conflitos. Esses novos fatos moveram
os rumos do processo artístico em direção a uma prosa menos preocupada com os experimentalismos estéticos da primeira
geração e mais preocupada com os problemas da realidade brasileira.
Assim, o
grande tema da segunda geração
modernista é a análise do ser humano e
de suas angústias, reflexo da vida em uma sociedade em crise, que resulta
num processo de amadurecimento e embrutecimento. O que se observava no
Brasil e no mundo no início da década de 30 exigia que os artistas e
intelectuais tomassem um posição mais engajada, de clara militância política.
O romance de
30
A prosa
vai assumir contornos neorrealistas,
retratando a realidade e conscientizando leitores. Aparece a vertente regionalista da prosa, que busca retratar as regiões marginalizadas
do Brasil, fazendo surgir a figura do fracassado, uma das maiores conquistas do
romance da geração de 30 para a ficção brasileira: a incorporação das figuras marginais.
Esses escritores
voltam-se para os problemas de sua realidade imediata, e a literatura regional
é caracterizada pela denúncia social. Assim, a seca torna-se um dos temas mais
importantes da literatura desse momento. Foi José Américo de Almeida em A bagaceira (1928), que primeiro abordou
o tema que mais tarde passou a ser explorado por muitos outros autores, como
Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos.
Em
contrapartida temos também o aparecimento de romances intimistas, uma narrativa mais subjetiva em que se aborda o interior dos
indivíduos, que se mostram angustiados em relação a essa realidade esgarçada.
Essa prosa tenta se aproximar mais das relações conflituosas entre o homem e o
mundo e como elas são processadas por esse mesmo homem em seu interior, a esse
romance damos o nome de romances psicológicos.
Esse momento
do modernismo é nomeado pela crítica literária como a era do romance, e desenvolve uma prosa marcada por
uma rudeza linguística e pela captação direta
dos fatos, aliada a retomada do
naturalismo, que dá ao romance característica de documento.
Em
sua obra História Concisa da Literatura
Brasileira, Alfredo Bosi apresenta os estudos acerca das tendências romanescas
feitos por Lucien Goldmann, George Lukács e por René Girard. Vale a pena
conferir o que o autor nos revela sobre os estudos dos teóricos do gênero do
romance.
Esses
estudos mostram o romance como uma tensão
entre escritor
e sociedade , portanto
inevitavelmente uma oposição entre o ego,
na figura do herói, e a sociedade.
A
partir desses estudos, o herói pode ser encarado da seguinte maneira:
1.
O
herói que empreende uma busca por seus valores pessoais e o meio
lhe é hostil;
2.
O
herói que se fecha na memória ou nos próprios estados da alma;
3.
O
herói que simplesmente limita-se a aprender a viver no difícil mundo em que foi lançado.
O que se observa é a ruptura
entre o herói
e o grupo , oposição
que se remonta à dicotomia homem natural /homem social, evidenciando, assim, a tensão como a única forma de relacionamento do autor/homem
com o mundo.
1.
Romances de tensão
mínima, cujos conflitos são simples e sentimentais, recheando a narrativa com apelo
histórico e espacial. Vale-se de uma verossimilhança neorrealista.
2.
Romances
de tensão crítica, cujo herói opõe-se às pressões da natureza
e do meio social. Essas narrativas revelam
as lesões produzidas pela sociedade. Aqui é comum que se ultrapasse o tipo,
valorizando-se o indivíduo protagonista, por meio do qual cria-se a atmosfera ,
isto é, abandona-se o tempo objetivo pela duração psíquica .
3. Romances de tensão interiorizada, nos quais o herói não se
sente capaz de enfrentar a antinomia eu /mundo e
evade-se, isto é, subjetiva o conflito
por meio de uma transformação psíquica da realidade. Dessa forma, o herói ultrapassa seu
conflito existencial. São os chamados romances
do ego, ou romances psicológicos, que revelam a cisão homem /mundo e o retorno
ao próprio sujeito, na tentativa de construir uma outra
realidade, o que é preferível a enfrentá-la.
São essas
as estruturas narrativas cultivadas pela geração de 30 e é por meio das obras
de autores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge
Amado, Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, que vemos despontar um Brasil
multifacetado, que apresenta uma diversidade regional e cultural, ao mesmo
tempo que apresenta problemas comuns em quase todas as regiões, tais como a
miséria, a ignorância, a opressão nas relações de trabalho, as forças atávicas
da natureza sobre o homem desprotegido. Problemas que esgarçam o interior desse
homem do século XX e resvalam para as tensões retratadas nos romances.
Beverley, isso é apenas uma das caracterizações de um tipo de herói, aquele q não consegue dar conta da tensão/dor e ou se mata, ou enlouquece.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário.
bj