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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Modernismo: a geração de 30

A segunda fase do Modernismo

     
O Modernismo desdobrou-se em novas manifestações na década de 1930, prolongando-se até meados da década seguinte.
Presenciou-se momentos de importantes transformações na sociedade, marcados pela modernização social do período entre guerras, fruto do crescimento industrial. Enquanto as mudanças nos setores comercial e financeiro faziam com que o país deixasse de ter um perfil econômico agrícola.
A Revolução de 1930 marca o fim da primeira República, com um golpe que coloca Getúlio Vargas na presidência e tira de cena a supremacia política de São Paulo e Minas Gerais. Em 1932, um movimento armado tenta destituir Getúlio do poder, mas é derrotado. Três anos depois, a tentativa de um golpe de estado, conhecido como a “Intentona Comunista”, é reprimido pelo governo de Getúlio, que passa a perseguir os comunistas. Essa perseguição resulta na instituição do regime do Estado Novo (1937 – 1945), que instaura no Brasil o totalitarismo, já presente na Europa de Hitler e Mussolini.
A partir desse quadro coloca-se a necessidade de repensar a realidade brasileira, repleta de conflitos. Esses novos fatos moveram os rumos do processo artístico em direção a uma prosa menos preocupada com os experimentalismos estéticos da primeira geração e mais preocupada com os problemas da realidade brasileira.
Assim, o grande tema da segunda geração modernista é a análise do ser humano e de suas angústias, reflexo da vida em uma sociedade em crise, que resulta num processo de amadurecimento e embrutecimento. O que se observava no Brasil e no mundo no início da década de 30 exigia que os artistas e intelectuais tomassem um posição mais engajada, de clara militância política.


O romance de 30


A prosa vai assumir contornos neorrealistas, retratando a realidade e conscientizando leitores. Aparece a vertente regionalista da prosa, que busca retratar as regiões marginalizadas do Brasil, fazendo surgir a figura do fracassado, uma das maiores conquistas do romance da geração de 30 para a ficção brasileira: a incorporação das figuras marginais.
Esses escritores voltam-se para os problemas de sua realidade imediata, e a literatura regional é caracterizada pela denúncia social. Assim, a seca torna-se um dos temas mais importantes da literatura desse momento. Foi José Américo de Almeida em A bagaceira (1928), que primeiro abordou o tema que mais tarde passou a ser explorado por muitos outros autores, como Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos.
Em contrapartida temos também o aparecimento de romances intimistas, uma narrativa mais subjetiva em que se aborda o interior dos indivíduos, que se mostram angustiados em relação a essa realidade esgarçada. Essa prosa tenta se aproximar mais das relações conflituosas entre o homem e o mundo e como elas são processadas por esse mesmo homem em seu interior, a esse romance damos o nome de romances psicológicos.
Esse momento do modernismo é nomeado pela crítica literária como a era do romance, e desenvolve uma prosa marcada por uma rudeza linguística e pela captação direta dos fatos, aliada a retomada do naturalismo, que dá ao romance característica de documento.
Em sua obra História Concisa da Literatura Brasileira, Alfredo Bosi apresenta os estudos acerca das tendências romanescas feitos por Lucien Goldmann, George Lukács e por René Girard. Vale a pena conferir o que o autor nos revela sobre os estudos dos teóricos do gênero do romance.
Esses estudos mostram o romance como uma tensão entre escritor e sociedade, portanto inevitavelmente uma oposição entre o ego, na figura do herói, e a sociedade.
A partir desses estudos, o herói pode ser encarado da seguinte maneira:

1.    O herói que empreende uma busca por seus valores pessoais e o meio lhe é hostil;
2.    O herói que se fecha na memória ou nos próprios estados da alma;
3.    O herói que simplesmente limita-se a aprender a viver no difícil mundo em que foi lançado.

O que se observa é a ruptura entre o herói e o grupo, oposição que se remonta à dicotomia homem natural/homem social, evidenciando, assim, a tensão como a única forma de relacionamento do autor/homem com o mundo.
Segundo Goldman, é justamente nessa tensão que se fundamenta o romance moderno, isto é, na tensão entre o herói e o seu mundo. Dessa forma o autor divide as tensões, e os romances, da seguinte forma:

1.    Romances de tensão mínima, cujos conflitos são simples e sentimentais, recheando a narrativa com apelo histórico e espacial. Vale-se de uma verossimilhança neorrealista.

2.    Romances de tensão crítica, cujo herói opõe-se às pressões da natureza e do meio social. Essas narrativas revelam as lesões produzidas pela sociedade. Aqui é comum que se ultrapasse o tipo, valorizando-se o indivíduo protagonista, por meio do qual cria-se a atmosfera, isto é, abandona-se o tempo objetivo pela duração psíquica.

3.      Romances de tensão interiorizada, nos quais o herói não se sente capaz de enfrentar a antinomia eu/mundo e evade-se, isto é, subjetiva o conflito por meio de uma transformação psíquica da realidade. Dessa forma, o herói ultrapassa seu conflito existencial. São os chamados romances do ego, ou romances psicológicos, que revelam a cisão homem/mundo e o retorno ao próprio sujeito, na tentativa de construir uma outra realidade, o que é preferível a enfrentá-la.

São essas as estruturas narrativas cultivadas pela geração de 30 e é por meio das obras de autores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, que vemos despontar um Brasil multifacetado, que apresenta uma diversidade regional e cultural, ao mesmo tempo que apresenta problemas comuns em quase todas as regiões, tais como a miséria, a ignorância, a opressão nas relações de trabalho, as forças atávicas da natureza sobre o homem desprotegido. Problemas que esgarçam o interior desse homem do século XX e resvalam para as tensões retratadas nos romances.

2 comentários:

  1. Olá, Janaína! Tudo bom?
    Eu acho que esse Goldman foi muito infeliz no significado que ele propôs para os romances psicológicos. Tem definições muito melhores em outros livros, outros sites. Reduzir o romance psicológico a um ato de covardia, de evasão, de preferir construir outra realidade do que enfrentá-la... é bizarro. Como se o externo fosse a nossa realidade máxima, ou como se o romance psicológico não estivesse profundamente conectado com o externo, com a natureza ou com a sociedade. Se a sociedade se curva a conceitos de época, só a mente pode encontrar algo mais verdadeiro e atemporal.
    Né?

    Inté!

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  2. Beverley, isso é apenas uma das caracterizações de um tipo de herói, aquele q não consegue dar conta da tensão/dor e ou se mata, ou enlouquece.
    Obrigada pelo comentário.
    bj

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